domingo, 2 de fevereiro de 2014

Efeito da dieta na função imunitária em atletas

Os atletas podem estar susceptiveis a doenças infecciosas do sistema respiratório, normalmente relacionadas com carências nutricionais e/ou excesso de treino. Um mecanismo explicativo poderá estar relacionado com o aumento da produção de espécies reactivas de oxigénio (stress oxidativo) associado a uma diminuição da função imunológica.

Dietas de baixo teor calórico (ingestão inferior ao gasto energético), baixo teor de gordura e de micronutrientes (vitaminas e minerais), podem comprometer as reservas energéticas intramusculares (glicogénio e gordura) e o sistema imunitário.

O exercício agudo e crónico podem alterar o número de células do sistema imunitário durante 24 a 48 horas após o treino. A monitorização do treino, a percepcão da fadiga, stress, episódios de infecções, qualidade do sono, dores musculares são indicadores que nos permitem avaliar o risco para o sistema imunitário.
O treino de grande intensidade é muito mais exigente, devendo a ingestão calórica igualar ao dispêndio. Carências nutricionais podem resultar na diminuição das reservas de glicogénio e gordura, com consequente redução da performance desportiva. Dietas com restrições inferiores a 20% de glícidos e 20% de gordura são insuficientes para manter os depósitos intracelulares e assegurar a função imunológica.

A glicose tem um efeito directo sobre o sistema imunitário. Especificamente, os baixos níveis de glicémia associam-se ao aumento de moléculas pró inflamatórias e hormonas catabólicas (cortisol, catecolaminas, entre outros).

O aumento do metabolismo oxidativo pode incrementar a produção de radicais livres de oxigénio. A suplementação com cofactores enzimáticos, tais como, ferro, zinco, cobre e selénio, assim como vitaminas antioxidantes: vitamina C, vitamina E e vitamina A, poderá ser benéfico no fortalecimento do sistema imunitário.

A suplementação com vitamina A (β-caroteno) deve ser 30mg/dia, enquanto que a suplementação com vitamina B12 é recomendado apenas para atletas com balanço energético negativo ou vegetarianos. A ingestão de vitamina C deverá ser feita nas 3 semanas prévias á competição, com uma dosagem de 1000mg/dia (doses maiores estão associadas a efeitos negativos tais como: diarreias, dores articulares e pedras no rim). A dosagem de 550mg/dia de vitamina E (α-Tocoferol), durante 50 dias, parece atenuar os efeitos negativos do exercício sobre o sistema imunitário.
A ingestão de alimentos ricos em zinco (marisco, carnes, cereais fortificados, iogurte) parece ser suficiente para atletas sem défices nutricionais. A suplementação está indicada apenas em atletas com défices energéticos negativos ou regimes vegetarianos aos quais se recomenda a ingestão de 10-20mg/dia deste micronutriente.
A ingestão de ferro, selénio e cobre deve ser satisfeita apenas com uma dieta equilibrada em alimentos ricos destes minerais (ver artigo: Alimentação como parte integrante do processo de treino). A sua suplementação apenas deverá ser realizada por recomendação clinica, devido às consequências negativas da sua sobredosagem.
A ingestão de baixos níveis de gordura está associada a uma diminuição do aporte de ácidos gordos essenciais (ómega 3), que tem um efeito anti inflamatório. Recomenda-se a sua suplementação, embora ainda não se conheça a curva de dose-resposta para os atletas.
Um desequilíbrio proteico negativo (balanço nitrogenado negativo), resulta na diminuição da resposta do sistema imunitário. Atletas em overtraining devem fazer a suplementação com proteínas durante 2-3 semanas.
Os atletas devem manter uma alimentação equilibrada, sendo a quantidade de calorias ingerida igual às dispendidas. As quantidades devem ser distribuídas de uma forma proporcional entre os macronutrientes (proteínas, glícidos e lípidos) e micronutrientes (vitaminas e minerais).

O comprometimento de qualquer um destes elementos pode associar-se a uma diminuição do desempenho físico bem como da expressão do sistema imunitário, contribuindo para o risco de infecções.