segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Nutrição no treino em altitude

O treino em altitude é utilizado como forma de aumentar e potenciar o rendimento desportivo em atividades que utilizem as capacidades anaeróbias e aeróbias.

Estas adaptações resultam da exposição prolongada em ambiente de baixa concentração de oxigénio. À medida que subimos ocorre um declínio progressivo de oxigénio, a partir dos 3000m a saturação de oxigénio (SaO2), diminui de 95% para 92% e a pressão do oxigénio (PIO2), diminui de 159mmHg para 110mmHg. Em altitudes superiores a 5000 metros a curva de saturação é inferior a 80% e a PIO2 de 85mmHg.
Estas modificações resultam numa perturbação da homeostase de repouso, causando ajuste fisiológicos e metabólicos essenciais para assegurar a oxigenação adequada dos tecidos em resposta ao stress imposto pela hipoxia.

Durante o exercício em altitude as intensidades de treino são maiores comparativamente às realizadas a altitudes ao nível do mar. Por exemplo, um treino a uma intensidade de 50% VO2max (nível do mar), é totalmente diferente a 2400m. O VO2 máx diminui progressivamente com a altitude, a cada 300m após os 1500m de altitude a capacidade funcional (VO2máx), diminui 3%. Como resultado uma carga de treino semelhante ao nível do mar vai representar uma maior intensidade do exercício comparativamente á realizada em altitude. Todavia, esta alteração das intensidades vai refletir-se no tipo de substrato utilizado durante as sessões. A dependência do glicogénio muscular é muito maior do que as gorduras e proteínas, logo, as necessidades de glícidos durante os estágios em altitude são muito maiores, mesmo após a aclimatização (21 dias).

Outra alteração que coincide com a exposição à altitude é a diminuição do peso corporal, este facto deve-se ao aumento do metabolismo basal, perda de fluidos e à diminuição do apetite. Esta triada resulta num défice calórico com perdas significativas no compartimento da massa isenta de gordura (MIG), ou seja, tecido muscular, total de agua corporal e tecido ósseo. Existe também perdas de massa gorda, no entanto, a MIG explica cerca de 60-70% da diminuição do peso corporal, comprometendo a capacidade física, força muscular, performance desportiva, sistema imunitário e aumenta o risco da doença da altitude.
Os principais objetivos da intervenção nutricional são: fornecer a energia igual ao gasto calórico e suprir as necessidades hídricas. Os atletas devem consumir mais de 60% da sua ingestão em alimentos ricos em glícidos. Devido á falta de apetite podemos aumentar o consumo de glícidos através de bebidas, barras e sumos naturais. Se ainda assim, não forem supridas as necessidades nutricionais, poderá ser necessário recorrer à suplementação. Em altitude os atletas devem ingerir entre 3 a 5 litros de água por dia; estes valores resultam do somatório da água ingerida e da contida nos alimentos. A norma proteica para a exposição á altitude é de 1,7-2 g/Kg/ dia, privilegiando as proteínas de alto valor biológico, sendo também, recomendado a utilização de aminoácidos de cadeia ramificada (BCAAs). As recomendações para os lípidos são de 1-1,2g/kg/dia, sendo uma maneira fácil de alcançar as necessidades energéticas diárias, isto porque, apresentam uma grande densidade calórica em pequenos volumes. Deve-se privilegiar o consumo de produtos hortofrutícolas de forma a aumentar a ingestão de minerais e vitaminas.


A permanência cronica em altitudes elevadas resulta num conjunto de múltiplas adaptações que poderão resultar numa diminuição da performance desportiva. O objectivo da intervenção nutricional é diminuir os efeitos negativos subjacentes a este fenómeno (diminuição do apetite, perda massa muscular e perdas hídricas), de modo a potenciar a optimização com o treino em altitude.