quarta-feira, 1 de abril de 2015

Nutrição no Velocista

As distâncias percorridas nas provas de velocidade variam entre os 60m e os 400m. Esta disciplina está dependente das vias anaeróbias lácticas e alácticas para produzir energia. A corrida consiste num esforço máximo durante um curto período de tempo, sendo o desempenho determinado pela capacidade de atingir a velocidade máxima limitando a perda de potência durante a prova.

A disciplina exige grandes e poderosos músculos, sendo predominantemente formados por fibras de contracção rápida. A alimentação tem um papel fundamental a vários níveis:
·         Manutenção da energia necessária para o treino/competição
·         Rápida recuperação entre treinos
·         Optimização das adaptações ao treino
·    Aumento da massa muscular e manutenção do baixo nível de massa gorda (rácio potência/peso)
·         Manutenção dos níveis de concentração exigidos pelo treino/competição.



As adaptações são específicas da modalidade, intensidade e duração do exercício. Estas são conseguidas através da estimulação das fibras musculares, mas também podem ser afectadas por factores nutricionais.
A síntese muscular ocorre após as sessões de treino e não durante o período de treino. No pós treino o catabolismo proteico (destruição muscular), diminui e acontece um aumento da Síntese Muscular Proteica (SMP), até 48h depois do término do treino. Todavia, para acelarar a SMP é necessário fornecer uma fonte exógena de Proteína de Alto Valor Biológico (PAVB), constituída por aminoácidos essenciais que favorecem o crescimento muscular. Estes aminoácidos têm um efeito sobre as vias de sinalização relacionadas com a síntese de proteínas musculares. O aa leucina é particularmente eficaz na estimulação e iniciação da tradução de novas proteínas que formam os músculos.

Outra via associada ao estímulo da SMP, é o aumento dos níveis de insulina resultantes da ingestão de glícidos. Assim os glícidos desempenham um papel fundamental na síntese muscular bem como na reposição das reservas de glicogénio muscular e hepático. Não só previne a fadiga, mas também maximiza o processo adaptativo ao treino, logo a melhor estratégia para estimular a fase anabólica é utilizar a combinação de glícidos e proteínas no pós-treino.

De acordo com as recomendações (ver tabela 1), os velocistas necessitariam de 1-2g de proteína/kg de peso corporal, todavia, estes valores são muito inferiores aos realmente observados em velocistas de elite. Uma vez que estes necessitam de ingerir uma elevada quantidade de energia para suportar o aumento de massa muscular, claramente que os valores de proteínas serão sempre superiores aos recomendados.
Glícidos
Lípidos
Proteína
5-7 g/Kg/dia
1-1,5 g/Kg/dia
1-2 g/Kg/dia
Exemplo: atleta de 80 kg
400g (5g/kg)
80g (1g/kg)
210g (3g/Kg)


Num atleta saudável o consumo excessivo de proteínas é improvável que seja prejudicial para a saúde. O único efeito documentado sobre o excesso de consumo de proteína é a própria oxidação deste macronutriente. Portanto, se existir uma justificação para o consumo proteico ser superior ao recomendado, então não existe razão nenhuma para não o fazer.

As proteínas têm um elevado poder saciante pelo que muitas vezes existe um risco destes atletas diminuírem o aporte de glícidos. A restrição de glícidos pode comprometer a reposição das reservas de glicogénio muscular e hepático, o que poderá afectar as adaptações ao treino, assim como o rendimento desportivo.

Assim sendo, não é possível fazer uma recomendação para a quantidade específica de proteína necessária para velocistas.
Todas as sugestões são baseadas na presunção de que existe uma relação linear entre quantidade de proteína consumida e aumento da síntese muscular proteica. Como foi descrito anteriormente a resposta anabólica está dependente de outros factores, tais como: treino, insulina, glícidos, aminoácidos. Logo, as adaptações ao treino dependem do balanço energético positivo, do tipo de proteína, do timing da ingestão e outros nutrientes coingeridos.

O balanço energético positivo é mais importante do que a quantidade de energia ingerida para o ganho de massa muscular. Por muita proteína que seja ingerida, se o balanço energético for negativo não ocorre síntese muscular; quando o consumo energético é igual ao gasto, os atletas irão ganhar massa muscular. Os pressupostos anteriores sugerem que a resposta aguda do músculo ao exercício e nutrição representa o potencial de ganho de força muscular a longo prazo.

Resumindo, os velocistas devem ingerir uma quantidade de energia igual ao dispêndio calórico, recomenda-se uma ingestão de glícidos e proteínas após o exercício para maximizar o balanço proteico e aumentar a massa muscular. O efeito dos glícidos é aumentar os níveis de insulina para bloquear a degradação proteica e aumentar a sua síntese. A proteína deve ser de alto valor biológico e rica em aa de cadeia ramificada, mais propriamente em leucina.