A utilização de suplementos alimentares é uma questão
que divide opiniões.
O recurso a suplementos alimentares para tentar
melhorar a performance é uma realidade no mundo desportivo. No entanto, antes
desta opção ser equacionada, os atletas, e treinadores, devem ter em
consideração que a segurança, legalidade e eficácia podem não estar
asseguradas, o que pode comprometer a elegibilidade e reputação do atleta. O controlo
dos suplementos dietéticos poderá não ocorrer com a exigência pretendida e idealizada
pelos consumidores.
Os suplementos alimentares estão regulamentados pela
directiva comunitária 2002/46/CE, com alterações pela Directiva 2006/37/CE da
Comissão de 30 de Março estipulada pela Autoridade Europeia para a Segurança dos
Alimentos (AESA), e transposta para direito nacional pelo decreto de lei
nº136/2003, de 28 de junho e pelo decreto-lei nº296/2007 de 22 de agosto. Em
Portugal o Gabinete de Planeamento e Politicas (GPP) pertencente ao ministério
da Agricultura é a entidade responsável pelas medidas políticas relativas à
qualidade e segurança alimentar, nomeadamente regulamentação e controlo dos
suplementos alimentares. Todos os fabricantes ou comerciantes responsáveis pela
introdução no mercado dos suplementos devem contactar o GPP antes de iniciar a
sua comercialização.
A veracidade da rotulagem dos suplementos dietéticos é
outra questão a considerar. Se esta não for investigada por terceiros, poderá existir
uma discrepância entre a quantidade de um ingrediente que o suplemento contém e
o que está descrito no rótulo. Esta situação poderá traduzir-se em dois casos:
se um ingrediente existir em maior quantidade poderá constituir um perigo para
a saúde; em menor quantidade apresentará numa menor eficácia do que o esperado.
Para além disso, mesmo não existindo adulteração (propositada ou não), existe
ainda a possibilidade de contaminação que só poderá ser descartada se houver
investigação.
Em relação à eficácia, o produtor ou distribuidor de
suplementos não precisa de comprová-la, ao contrário do que acontece com os medicamentos.
Deste modo, não existindo verificação independente,
não há garantia quanto à veracidade da rotulagem e pureza do suplemento.
Verifica-se a mesma incerteza quanto à segurança ou eficácia de um suplemento,
já que é difícil assegurar que tenham sido efectuados estudos, uma vez que tal
é da responsabilidade dos fabricantes. Produtos que foram testados por terceiros
costumam anunciá-lo, informando assim o consumidor, sendo também relevante numa
perspetiva de marketing.
Os alimentos têm maior valor nutricional comparativamente
às suas versões em pó ou cápsula e na maior parte dos casos as vitaminas e
minerais em alimentos são melhor absorvidas do que quando ingeridas em
suplementos. Através da alimentação é difícil existir um consumo excessivo de
nutrientes, o mesmo não acontece quando se fala de suplementação, ou quando
existe um grande consumo de alimentos fortificados. É essa a razão pela qual
surgiram os limites máximos considerados como seguros para a ingestão de
nutrientes. Assim, quando o objetivo é melhorar a performance, a nutrição adequada
e a modificação da dieta deverão ser consideradas como a primeira abordagem a implementar.
Os produtos que os atletas estão a considerar
utilizar, deverão ser avaliados por entidades independentes quanto ao nível de
pureza, segurança e eficácia, uma vez que o nível de regulamentação desta
indústria não é tão elevado quanto o desejado. Atualmente, existem vários recursos
que disponibilizam estas informações.
Numa investigação (Geyer H, et Al 2004), que teve como
objectivo avaliar o nível de contaminação de esteroides anabolizantes em cerca
de 634 suplementos oriundos de diversos países (Estado Unidos, Alemanha, Reino
Unido, Holanda, Itália, França, Suíça, Noruega, Bélgica, Dinamarca, Suécia, Áustria,
Finlândia e Portugal), concluíram que 14,8% dos 634 suplementos estavam
contaminados com substâncias proibidas.
Apesar de serem vendidos de forma legal, os
suplementos poderão conter substâncias proibidas. Assim, tendo em consideração
que, segundo o código da WADA (World
Anti-Doping Agency), os atletas são considerados responsáveis pela presença
de substâncias proibidas no seu sistema, independentemente da forma como tal poderá
ter acontecido, estes deverão ponderar se os alegados benefícios dos
suplementos se sobrepõem aos riscos que lhes poderão estar associados.