INFLUÊNCIA DA TRIADE TEMPERATURA,
HUMIDADE E HIDRATAÇÃO NA PERFORMANCE DESPORTIVA
Foram analisados os 10 melhores
tempos de 8 provas (100m, 200m, 400, 800m, 1500, 5000m, 10000m e maratona),
realizados em 7 mundiais organizados pela IAFF entre 1999 e 2011. Os resultados
foram divididos de acordo com a com a humidade e temperatura:
·
Climas temperados 18.5±3.2ºC, 59.6±7% =>
sensação térmica <25ºC
·
Climas quentes 30±4.3ºC, 61.3±4.9% => sensação
térmica>25ºC
Observou-se que as provas concretizadas
em climas quentes resultaram numa melhoria dos resultados nas distâncias curtas.
Por outro lado, os eventos de meio fundo pouco ou nada foram afectados pelo
calor, enquanto as provas de fundo apresentaram mesmo uma diminuição da
performance.
100m
|
200m
|
400m
|
800m
|
1500m
|
5000m
|
10000m
|
Maratona
|
↑
1,3%
|
↑
1.5%
|
↑
0,2 %
|
↓
0,2%
|
↑
0,1%
|
↓
1,3%
|
↓
0,7%
|
↓
3.1%
|
Tabela-1 Influencia dos climas quentes na performance
desportiva comparativamente a climas temperados
A maratona foi a prova que obteve
maiores alterações, com uma redução da performance em aproximadamente 3%.
Durante o exercício ao calor, o
fluxo sanguíneo da pele aumenta, associado ao incremento da taxa de produção de
suor, permitindo a dissipação do calor produzido para o ambiente externo. Ocorre,
assim, uma transferência de calor a partir do core para a pele, surgindo um
aumento do gradiente da temperatura do core, sangue e pele. O aumento da
temperatura corporal provoca uma redistribuição do débito cardíaco, obtida
através de uma diminuição da perfusão dos órgãos internos e um aumento do
sangue na pele. Subjacente a estas adaptações, é necessário o aumento da
frequência cardíaca para garantir o débito cardíaco necessário.
Quando as intensidades do
exercício e o calor são de tal magnitude que a produção endógena de calor
ultrapassa a capacidade de dissipação de calor para o ambiente, a hipertermia impossibilita
a capacidade da manutenção do debito cardíaco devido à queda do volume
sistólico e aumento da temperatura do core. A hipertermia ocorre quando a
temperatura do core são superiores a 40ºC, o que induz a uma diminuição da
activação músculo-esquelética ao nível do sistema nervoso central. O aumento da
temperatura no hipotálamo induz sinais inibitórios da activação músculo-esquelética,
originando perturbações na capacidade do cérebro em sustentar a actividade
motora.
A activação da termorregulação
associada à exposição ao calor, inclui o aumento da frequência cardíaca,
temperatura do core e da pele, fluxo sanguíneo da pele, percepção ao esforço,
tensão térmica, sensação de sede e perda de agua corporal. A alteração destes
parâmetros fisiológicos pode potenciar ou prejudicar o rendimento
desportivo.
O aumento moderado da temperatura
do corpo pode beneficiar o desempenho nas provas de curta distancia, através do
aumento da velocidade das reacções químicas e condução nervosa no músculo-esquelético.
Um aumento da temperatura em 10ºC no músculo duplica a velocidade dos processos
envolvidos com a mecânica muscular (velocidade e poder de contracção) e
reacções metabólicas. Em contraste, uma elevação excessiva da temperatura
corporal (hipertermia) durante a actividade, prejudica a performance durante o
exercício prolongado.
O stress induzido pelo calor e
exercício pode levar ao estado de desidratação, resultando numa diminuição do
volume plasmático, concentração de sódio, aumento da osmolalidade plasmática e
estimulação da sensação de sede.
Os atletas que vão competir em
climas quentes devem passar por um processo de aclimatização, para obter as
adaptações fisiológicas necessárias (tabela 2). Estas adaptações consistem na
diminuição da frequência cardíaca, temperatura do core e pele, aumento da taxa
de sudorese e capacidade de realizar trabalho físico. As adaptações aos climas
quentes ocorrem mais rapidamente em atletas de elite comparativamente a atletas
recreativos, desenvolvem-se também mais rapidamente na primeira semana e mais
lentamente na segunda. São necessárias 6-10 dias para atingir as adaptações
completas do sistema cardiovasculares e dos mecanismos da termorregulação.
Objectivo
|
Duração
|
Período
|
Conteúdo
|
Ambiente
|
|
Pré-Temporada
|
↑
Estímulo de treino
|
1-2 Semanas
|
Preparatório
|
Treino regular
75-90’
↑ temp. corporal e induzir sudorese
|
Stress térmico
natural ou artificial
|
Competição alvo
|
Optimização futura
da aclimatização e avaliar as respostas fisiológicas ao calor
|
2 Semanas
|
Pré competitivo
1 Mês anterior à
competição
|
Treino regular, estímulo
de competição e tete de resposta ao calor
|
Equivalente ao
ambiente competitivo
|
Competição
objectivo
|
Optimização da
performance ao calor
|
1-2 Semanas
|
Competitivo
|
Treino pré
competição
|
Igual ao da
competição
|
Tabela 2- protocolo de aclimatização de acordo com o período
de treino
Como foi referido anteriormente,
a hipertermia durante o exercício e em condições de ambientes quentes está
associada ao aumento da taxa de produção de suor, o que pode levar a uma desidratação
progressiva, se as perdas de fluidos não forem repostas. A desidratação leva a
uma diminuição do volume plasmático e aumento da osmolalidade do plasma, que
são proporcionais à redução da água corporal.
A diminuição da água corporal é
equivalente ao peso perdido durante o esforço. Numerosos estudos relatam que a
desidratação prejudica a performance aeróbia, quando ocorre uma perda superior
a 2% do peso corporal. Todavia, esta premissa não é consensual; estudos
recentes sugerem que a desidratação até 4% não altera o desempenho. Pensa-se
que a ideia de que as consequências prejudiciais da desidratação (2% do peso corporal),
foram subestimadas pelas empresas de bebidas desportivas, e, que os atletas
deveriam beber ao estímulo da sede. Em última análise, o beber à “sede”, pode
ser apropriado em muitos eventos desportivos, mas não em circunstâncias em que
é esperado uma desidratação grave (maratonas, ultramaratonas, ironman).
A hidratação durante o exercício
está dependente da disponibilidade de fluidos e da especificidade dos eventos.
No entanto, existem outros factores intervenientes, tais como as diferenças individuais
dos atletas: os mais rápidos não conseguem ingerir grande volume de fluidos e
os mais lentos por vezes podem beber em excesso, associado ao risco de intoxicação
por água.
Hidratação Pré exercício
Em climas temperados os seres
humanos estão bem hidratados, sendo a variação do peso corporal entre 0,2-0,7%
do peso corporal por dia. Em ambientes quentes os atletas devem garantir uma
boa hidratação diária de forma a repor a água e os electrólitos perdidos. Geralmente, beber 6ml/Kg durante o período de
adaptação em cada 2-3 horas é suficiente para manter o estado de hidratado.
Hidratação - Durante o exercício
As perdas de suor variam durante
o exercício e estão dependentes da taxa de produção de energia, condições
ambientais e estado de aclimatização ao calor. Embora taxas de sudorese entre
1-1,5 litros/hora são consideradas normais, existem atletas que podem exceder
2,5 litros/ hora. Atletas que apresentem elevadas produções de suor devem
aumentar a ingestão de sódio nos dias que antecedem o exercício e, se
necessário, suplementar durante o evento. Uma diminuição de 20-30% das
concentrações plasmáticas de sódio está relacionada com o aumento de cãibras
durante o exercício. Em climas quentes os atletas devem adicionar 3g de sal/0,5
litros de líquido que contenha hidratos de carbono.
Hidratação – Pós exercício
Após o treino/competição em
ambientes quentes, a rehidratação é importante para optimizara recuperação. O peso
perdido deve ser rapidamente reposto na hora após o término da prova ou treino.
Por cada kg perdido durante o exercício, deve-se ingerir entre 1-1,2 litros de
líquido que contenha hidratos de carbono, proteína e sódio. A combinação destes
nutrientes resulta em elevadas taxas de síntese de glicogénio muscular e
síntese proteica. Sugere-se a utilização do leite com chocolate que tem uma
proporção de 4g de hidratos por 1g de proteína, assim como, uma concentração de
sódio ideal.
As provas realizadas em ambientes
quentes e húmidos podem prejudicar ou potenciar o rendimento desportivo;
atletas de distâncias curtas podem ser beneficiados pelo aumento da temperatura
corporal, todavia, os desportos de resistência necessitam de um período de
aclimatização assim como cuidados extras relativamente hidratação nas
diferentes fases assim como um aporte extra de sódio.