Nos Estados Unidos da América cerca de 50% dos atletas de elite, 40% dos atletas não elite e 25% dos atletas de recreação, utilizam suplementos antioxidantes diariamente. Existe a ideia generalizada de que qualquer actividade física necessita desuplementação antioxidante. O principal argumento para esta recomendação é que qualquer aumento na actividade física é proporcional ao aumento da produção de espécies reactivas de oxigénio (ERO) e consequente destruição celular, originando uma diminuição do rendimento desportivo.
A prática de exercício físico aumenta a produção de ERO 2-4 vezes comparativamente a indivíduos sedentários; esta alteração do estado redox causa o denominado stress oxidativo nos músculos e outros tecidos, lípidos, proteínas e material genético.
A mitocôndria é o principal local da célula onde se dá a produção das ERO; cerca de 85% do oxigénio é consumido por este organelo. Durante a produção de energia, são utilizadas grandes quantidades de oxigénio para a respiração mitocondrial, sendo aágua o metabolito final. Durante este processo, alguns eletrões formam o RadicalSuperóxido (O2.-), o grande precursor de vários outros radicais livres: Peróxido de Hidrogénio (H2O2), Radical Hidroxiacil (OH.), Radical Peroxil (ROO.), Radical Alcoxil (RO.), entre outros. Os radicais mais importantes, apresentados por ordem de reactividade no organismo: O2.-< ROO. < OH.. O radical O2.- tem uma baixa reactividade celular comparativamente ao OH., ou seja, o OH. causa muitos mais danos celulares.
Existem dois tipos de sistemas antioxidantes: endógenos e exógenos. O sistema endógeno é intrínseco ao organismo, ou seja, as próprias células estão equipadas com um sistema de defesa antioxidante enzimático e não enzimático (principal agente antioxidante intracelular). Ver: tabela 1.
Antioxidantes Endógenos
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Sistema Enzimatico
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Sistema não Enzimatico
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Superoxido Dismutase
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Catalase
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Glutationa Peroxidase
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Glutationa redutase
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Glucose-6-fosfato desidrogenase
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Tioredoxina redutase |
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Glutationa
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Acido úrico
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NADPH
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Coenzima Q
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Albumina
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Bilirubina |
Os antioxidantes exógenos derivam principalmente da dieta (frutas, vegetais e cereais).
Antioxidantes Exógenos
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Fonte
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Vitaminas C
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Vitamina E
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Micronutrientes: Zinco e Selenio
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Carotenoides (percursores Vit. A)
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Polifenois |
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Meloa, citrinos, maçãs, morangos, brócolos, tomate, couve flor, espinafres
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Frutos secos, sementes, cereais
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Mariscos, cereais fortificados, iogurte, carne, figado, ovo
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Fígado, batata doce, cenoura, abobora, (fruta e legumes de cor verde e amarela)
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Soja, frutos secos. |
Após o exercício, as concentrações das espécies reativas de oxigénio estão aumentadas; subsequentemente, o sistema antioxidante é activado para eliminar os radicais livres que foram produzidos durante o exercício.
O aumento das ERO induz uma diminuição da capacidade funcional do músculo, alterações histológicas (celular) e dor muscular. Inicialmente pensava-se que esta alteração do estado de redox seria prejudicial para o processo de treino e que prevenir as suas acções seria benéfico. Todavia, novas investigações têm demonstrado que as suas acções são benéficas, desempenhando um papel importante na regulação e transcrição de genes, ou seja, parece que as adaptações ao treino são reguladas pelo estado redox. Os dois factores de transcrição associados a estas adaptações são o NF-KB (factor nuclear), que é responsável pela transcrição de genes do sistema imunitário e inflamatório, e o factor AP1 (proteína activadora), que regula os genes responsáveis pelo crescimento e diferenciação celular. Adicionalmente, o aumento da produção de ERO promove a activação das enzimas antioxidantes endógenas durante o treino.
A produção de ERO durante o exercício é necessária para dar início aos processos adaptativos. Estes processos incluem a regulação das enzimas antioxidantes, sistema dano-reparação celular, redução dos níveis basais de ERO e redução dos danos oxidativos durante o exercício. Assim, o aumento do estado redox é proporcional aos processos adaptativos do treino.
As mais recentes investigações sugerem que a utilização de suplementos antioxidantes (vitamina C e E) pode ser prejudicial, suprimindo as adaptações ao treino e, assim, diminuindo ou mesmo prejudicando o efeito do treino no processo da biogénese mitocondrial (produção de novas mitocôndrias) e subsequente diminuição da performance.
Todavia, grande número destes estudos foi realizado em indivíduos sedentários ou derecreação. Este facto pode limitar a interpretação dos resultados, uma vez que a maioria dos atletas de elite que fazem suplementação também apresenta maiores volumes e intensidades de treino que os utilizados nos estudos.
Com base nos estudos sobre o efeito de vitamina E e/ou C no desempenho da performance e o equilíbrio redox, um consumo permanente de altas dosagens destas vitaminas não deve ser recomendado (vitamina C>90mg/dia e vitamina E >15mg/dia).Esta recomendação não deve ser confundida com a alta ingestão de legumes e frutas, que são considerados seguros e benéficos.
2.Goto S, Naito H, Kaneko T, Chung HY, Radak Z. Hormetic effects of regular exercise in aging: correlation with oxidative stress. Applied physiology, nutrition, and metabolism = Physiologie appliquee, nutrition et metabolisme. 2007;32(5):948-53. Epub 2007/12/07.
3.Nikolaidis MG, Kerksick CM, Lamprecht M, McAnulty SR. Redox biology of exercise. Oxidative medicine and cellular longevity. 2012;2012:407978. Epub 2012/10/11.
4.Nikolaidis MG, Kerksick CM, Lamprecht M, McAnulty SR. Does vitamin C and E supplementation impair the favorable adaptations of regular exercise? Oxidative medicine and cellular longevity. 2012;2012:707941. Epub 2012/08/29.
5.Yfanti C, Akerstrom T, Nielsen S, Nielsen AR, Mounier R, Mortensen OH, et al. Antioxidant supplementation does not alter endurance training adaptation. Medicine and science in sports and exercise. 2010;42(7):1388-95. Epub 2009/12/19.
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