Várias
funções fisiológicas necessitam de sódio, tais como, a manutenção do equilíbrio
acido-base, neurotransmissão e absorção de glícidos pelo transportador SGlut1
no intestino. As necessidades diárias recomendadas para um adulto são cerca de
1500 mg/dia (equivale a 3,8g de sal de cozinha). Devido a alteração dos hábitos
alimentares a nossa ingestão é de cerca de 3000-6000 mg/dia (≈7g-15g de sal de
cozinha por dia).
Na nutrição desportiva sabemos da
importância do sódio nos diversos processos fisiológicos, no entanto, temos o
conhecimento que estas necessidades diárias são atingidas e até superadas
facilmente.
Em provas realizadas em ambientes
quentes e com humidade relativa elevada, existe um aumento da taxa de sudorese
com a perda de agua e electrólitos, principalmente o sódio, originando
hiponatrémia ([Na+] plasmático=126-130mmol/L). A hiponatrémia pode
apresentar um quadro sintomatologico muito similar ao estado de desidratação:
fraqueza, confusão mental, sede, desmaio, entre outros.
A origem da hiponatrémia poderá ser
causada por outros factores independentes das condições ambientais, intensidade
e duração da competição ou exercício. Normalmente, os atletas aumentam o
consumo de água nos dias anteriores á prova de forma a promover uma adequada
hidratação. Assim, gera-se um balanço de fluidos positivo (hiperhidratação) necessário
para optimizar a termo-regulação e, subsequentemente, garantir a manutenção da
performance desportiva.
Todavia, esta sobrecarga de líquidos é muitas
vezes realizada à custa de fluidos com baixos teores de sódio, como por exemplo,
agua e sumos. A ingestão deste tipo de líquidos induz o aumento da produção de
urina, com perdas plasmáticas de sódio.
A depleção de sódio despoleta a
libertação da hormona antidiurética (ADH-Vasopressina), responsável pelo
contínuo estímulo da sede. Se a tendência for administrar mais líquidos de
baixo teor de sódio para suprimir a sede, o estado de hiponatrémia vai ser
perpetuado.
Num estudo, Maughan e seus
colaboradores sujeitam vários os ciclistas a executar exercício em condições de
temperatura de 32ºC com 54% de humidade, até perderem ≈2% do peso corporal.
Após um período de 30 minutos de repouso, estes ingeriram 1,5 vezes o peso corporal
perdido de uma solução com diferentes concentrações de sódio: 2 mmol/L; 26 mmol/litro;
52 mmol/L e 100mmol/L. A urina foi recolhida durante 5h30min. Observou-se que a
produção de urina foi inversa á quantidade de sódio ingerido, ou seja, quanto
maior a concentração de sódio menor a diurese. Constatou-se que as bebidas que
continham entre 52 e 100mmol de Na+/L, resultaram num maior
reposição do conteúdo de sódio plasmático, tendo sido a bebida que continha a
solução de 100mmol/L, aquela que repôs os níveis iguais ao basal.
O sódio exerce um efeito positivo
sobre o balanço hídrico durante as diferentes fases de hidratação,
pré-exercicio, durante e pós-exercício. Isto deve-se a dois factores: 1) como a
absorção de glucose no intestino é dependente de sódio, pensa-se que para alem
de ser um potenciador da absorção deste açúcar a o sódio ajuda à absorção de
água por transporte passivo; 2) previne a diluição da concentração de sódio plasmática, o que acontece quando apenas ingerimos agua.
Muitas vezes as marcas das bebidas desportivas promovem os
seus produtos pela constituição de electrólitos (minerais). Até á data não
existe evidencia sobre o benefício da adição de outros minerais para alem do
sódio. No entanto, alguns estudos (Costill 1985), referem a hipomagnesémia
(diminuição de magnésio plasmático), em triatletas de longa distância.
Maughan e colaboradores, demonstraram
a menor importância de outros minerais (potássio, cloro e magnésio), comparativamente
ao sódio. Analisaram o suor e urina após a realização de exercício físico e
compararam as suas concentrações com as plasmaticas. Concluíram que as
concentrações destes electrolitos estavam mais diluídas no suor,
comparativamente com os seus níveis séricos. Esta diferença não foi observada
para o sódio. Esta investigação sugere que a sudorese é responsável pela perda
de água e de sódio.
Recomenda-se a ingestão de bebidas com
concentrações de sódio para as diferentes fases:
- Pré
treino ou pré competição => soluções entre 50-100mmol/L (29-30g/L de
sal)
- Durante
=> soluções entre 10-30 mmol/L (0,6-1,8g/L)
- Pós-treino
ou pós-competição => igual ao pré.
O problema é que grandes concentrações
de sódio nas bebidas diminuem a palatilidade das mesmas. Normalmente
adiciona-se glícidos para aumentar esta palatilidade que resulta numa maior
absorção de glucose, sódio e água. No entanto, como já foi referido em números
anteriores da revista, concentrações de glícidos> 10%, podem provocar
distúrbios gastrointestinais durante o exercício, pelo que a sua quantidade nas
bebidas deve ser controlada.
Após o exercício é aconselhável a
ingestão de glícidos e sódio em forma sólida, porque estas apresentam maiores
concentrações comparativamente ás bebidas.
Podemos concluir que a ingestão de
bebidas que contenham sódio previnem a hiponatrémia. Já suplementação de sódio
não previne o desenvolvimento da mesma, sendo o elemento mais importante de
prevenção a quantidade de agua ingerida. Muita atenção com alguns suplementos
desportivos que utilizam o glicerol para uma maior retenção de água, este foi
banido pela Agencia Mundial de Antidopagem.