sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

HIPONATREMIA NO EXERCICIO

A hiponatrémia consiste na diminuição da concentração plasmática de sódio (Na+). Este é o maior catião existente no espaço extra celular, apresenta uma importante função na regulação dos fluidos corporais e pressão arterial. Esta função é realizada em conjunto com o potássio (maior catião intracelular) e o cloro (maior anião extra celular).




            Várias funções fisiológicas necessitam de sódio, tais como, a manutenção do equilíbrio acido-base, neurotransmissão e absorção de glícidos pelo transportador SGlut1 no intestino. As necessidades diárias recomendadas para um adulto são cerca de 1500 mg/dia (equivale a 3,8g de sal de cozinha). Devido a alteração dos hábitos alimentares a nossa ingestão é de cerca de 3000-6000 mg/dia (≈7g-15g de sal de cozinha por dia).


Na nutrição desportiva sabemos da importância do sódio nos diversos processos fisiológicos, no entanto, temos o conhecimento que estas necessidades diárias são atingidas e até superadas facilmente.




Em provas realizadas em ambientes quentes e com humidade relativa elevada, existe um aumento da taxa de sudorese com a perda de agua e electrólitos, principalmente o sódio, originando hiponatrémia ([Na+] plasmático=126-130mmol/L). A hiponatrémia pode apresentar um quadro sintomatologico muito similar ao estado de desidratação: fraqueza, confusão mental, sede, desmaio, entre outros.

           

A origem da hiponatrémia poderá ser causada por outros factores independentes das condições ambientais, intensidade e duração da competição ou exercício. Normalmente, os atletas aumentam o consumo de água nos dias anteriores á prova de forma a promover uma adequada hidratação. Assim, gera-se um balanço de fluidos positivo (hiperhidratação) necessário para optimizar a termo-regulação e, subsequentemente, garantir a manutenção da performance desportiva.

 Todavia, esta sobrecarga de líquidos é muitas vezes realizada à custa de fluidos com baixos teores de sódio, como por exemplo, agua e sumos. A ingestão deste tipo de líquidos induz o aumento da produção de urina, com perdas plasmáticas de sódio.


A depleção de sódio despoleta a libertação da hormona antidiurética (ADH-Vasopressina), responsável pelo contínuo estímulo da sede. Se a tendência for administrar mais líquidos de baixo teor de sódio para suprimir a sede, o estado de hiponatrémia vai ser perpetuado.


Num estudo, Maughan e seus colaboradores sujeitam vários os ciclistas a executar exercício em condições de temperatura de 32ºC com 54% de humidade, até perderem ≈2% do peso corporal. Após um período de 30 minutos de repouso, estes ingeriram 1,5 vezes o peso corporal perdido de uma solução com diferentes concentrações de sódio: 2 mmol/L; 26 mmol/litro; 52 mmol/L e 100mmol/L. A urina foi recolhida durante 5h30min. Observou-se que a produção de urina foi inversa á quantidade de sódio ingerido, ou seja, quanto maior a concentração de sódio menor a diurese. Constatou-se que as bebidas que continham entre 52 e 100mmol de Na+/L, resultaram num maior reposição do conteúdo de sódio plasmático, tendo sido a bebida que continha a solução de 100mmol/L, aquela que repôs os níveis iguais ao basal.




O sódio exerce um efeito positivo sobre o balanço hídrico durante as diferentes fases de hidratação, pré-exercicio, durante e pós-exercício. Isto deve-se a dois factores: 1) como a absorção de glucose no intestino é dependente de sódio, pensa-se que para alem de ser um potenciador da absorção deste açúcar a o sódio ajuda à absorção de água por transporte passivo; 2) previne a diluição da concentração de sódio plasmática, o que acontece quando apenas ingerimos agua.


Muitas vezes as marcas das bebidas desportivas promovem os seus produtos pela constituição de electrólitos (minerais). Até á data não existe evidencia sobre o benefício da adição de outros minerais para alem do sódio. No entanto, alguns estudos (Costill 1985), referem a hipomagnesémia (diminuição de magnésio plasmático), em triatletas de longa distância.




Maughan e colaboradores, demonstraram a menor importância de outros minerais (potássio, cloro e magnésio), comparativamente ao sódio. Analisaram o suor e urina após a realização de exercício físico e compararam as suas concentrações com as plasmaticas. Concluíram que as concentrações destes electrolitos estavam mais diluídas no suor, comparativamente com os seus níveis séricos. Esta diferença não foi observada para o sódio. Esta investigação sugere que a sudorese é responsável pela perda de água e de sódio.


Recomenda-se a ingestão de bebidas com concentrações de sódio para as diferentes fases:

  1. Pré treino ou pré competição => soluções entre 50-100mmol/L (29-30g/L de sal)
  2. Durante => soluções entre 10-30 mmol/L (0,6-1,8g/L)
  3. Pós-treino ou pós-competição => igual ao pré.


O problema é que grandes concentrações de sódio nas bebidas diminuem a palatilidade das mesmas. Normalmente adiciona-se glícidos para aumentar esta palatilidade que resulta numa maior absorção de glucose, sódio e água. No entanto, como já foi referido em números anteriores da revista, concentrações de glícidos> 10%, podem provocar distúrbios gastrointestinais durante o exercício, pelo que a sua quantidade nas bebidas deve ser controlada.


Após o exercício é aconselhável a ingestão de glícidos e sódio em forma sólida, porque estas apresentam maiores concentrações comparativamente ás bebidas.


Podemos concluir que a ingestão de bebidas que contenham sódio previnem a hiponatrémia. Já suplementação de sódio não previne o desenvolvimento da mesma, sendo o elemento mais importante de prevenção a quantidade de agua ingerida. Muita atenção com alguns suplementos desportivos que utilizam o glicerol para uma maior retenção de água, este foi banido pela Agencia Mundial de Antidopagem.

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