quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Importância da creatina nos desportos de alta intensidade.

A creatina (Cr) está presente nos alimentos ricos em proteinas de alto valor biologico (carne, peixe e leite), mas também é sintetizada endogenamente pelo fígado e rins, tendo como percursores os aminoácidos arginina e glicina. É transportada plasmáticamente por uma proteína  específica (X-Linked Creatine), mais de 90% da creatina sérica destina-se ao músculo-esquelético. As sua concentrações no musculo são de 130mmol/kg, cerca de 65% intracelular,  sob a forma fosforilada (fosfocreatina (PCr)) e os restantes 35% como creatina livre. Em situação de suplementação os valores da concentração de creatina podem chegar aos 160 mmol/kg.

Na fase de transição de repouso para exercício a fosfocreatina proporciona um fonte rápida de energia para o músculo durante os primeiros segundos (6-8seg.).

O interesse na suplementação com creatina no desporto surgiu em 1992 através investigador Roger Harris, que demonstrou que a suplementação de 20g/dia de creatina monohidratada resultou no aumento das concentrações de fosfocreatina entre 15-20% no músculo-esquelético. Pesquisas posteriores demonstraram resultados semelhantes após uma sobrecarga de 20g/dia durante 6 dias seguidos de uma baixa dosagem (3g/dia ou 2g/dia) durante 30 dias

Após a suspensão da suplementação os valores baixam lentamente até aos niveis basais (5-8 semanas). A quantidade intracelular varia de acordo com as características dos indivíduos e os seus hábitos alimentares, por exemplo, regimes vegetarianos têm níveis inferiores aos regimes omnívoros.
O desempenho de actividades de alta intensidade e de curta duração estão dependentes desta via metabólica. Com base nesta premissa, seria lógico que o aumento das concentrações de fosfocreatina fosse proporcional ao aumento do rendimento desportivo pelo prolongamento do aporte de energia anaeróbia aláctica. A vantagem deste sistema é apresentar uma elevada taxa de produção de ATP em completa ausência de oxigénio sem a produção de lactato, favorcendo também a diminuição do pH, através da diminuição das concentrações de protões (H+), (ADP+PCr+H+ = ATP + Cr).

Estudos iniciais demonstraram um aumento de 1 a 2 % na produção de energia em atletas suplementados com creatina e sujeitos a esforços realizados durante 20-30seg. Outros estudos também reportaram um aumento significativo 1,5kg da massa isenta de gordura após a suplementação com creatina monohidratada durante 5-7 dias. Verificou-se que esse efeito é maior no género masculino do que feminino e no compartimento da água intracelular. Todavia, a suplementação associada ao treino de força está relacionado com o aumento da massa muscular.

A creatina e a fosfocreatina são convertidas em creatinina dentro das células, sendo posteriormente excretada pela urina. Existe uma relação entre a creatinina excretada (24h) e a massa muscular, por cada grama de creatinina excretada é equivalente a 20 kg de massa muscular. No caso de suplementação, estes valores poderão estar alterados. Estudos prospectivos demonstraram que a suplementação com creatina não apresenta efeitos adversos sobre a função renal em indivíduos saudáveis com regimes de suplementação protocolados.


Para um atleta que deseje tomar creatina ou outro suplemento é importante considerar 3 factores:
1.    A suplementação utilizada na competição deve ser experimentada durante os treinos para saber como o organismo reage.
2.    Informar-se junto da Autoridade Antidopagem de Portugal se alguns dos constituintes do produto estão na lista de substâncias proibidas.
3.    A toma pode não resultar no efeito pretendido.


Resumindo, a suplementação de creatina em actividades de  alta intensidade e de curta duração poderá ser benéfica, a evidência sugere que a sobrecarga de creatina (5g 4x/ dia durante 4-5 dias ou 3g/dia durante 30 dias), aumentará a taxa de produção de energia através desta via.