sábado, 4 de julho de 2015

Proteínas whey, caseína e proteína de soja, qual a mais eficaz na síntese muscular?

Por: Mafalda Ng.

As proteínas são compostos orgânicos formados por aminoácidos (AA), e constituem o componente  estrutural major do músculo e  outros tecidos do organismo. Através da dieta, as proteínas podem provir de fontes animais e vegetais. As proteínas animais, dado que contêm todos os aminoácidos essenciais (completas),  possuem um valor biológico (VB) superior às vegetais, que geralmente têm falta de um ou dois aminoácidos essenciais (incompletas). No entanto, uma combinação apropriada de proteínas vegetais providencia todos os aminoácidos essenciais (AAE) e portanto, benefícios semelhantes às proteínas animais

O VB mede a qualidade proteica, refletindo a eficiência do organismo em utilizar as proteínas ingeridas, estando relacionado com o elevado fornecimento de AAE. Esta eficiência é determinada pela sua qualidade (disponibilidade de AA) e digestibilidade (utilização da proteína). A proteína da soja, ao contrário das restantes proteínas vegetais, apresenta um VB equivalente à proteína animal. É uma proteína completa com uma elevada concentração de aminoácidos de cadeia ramificada (em inglês BCAA’s), importantes na reparação e construção de tecidos.

As proteínas de alto valor biológico (AVB) evidenciam um alto potencial na estimulação e manutenção da síntese muscular após o treino de força, mas principalmente as proteínas provenientes do leite (proteína whey e caseína) e da soja têm sido as mais utilizadas para promover o ganho de massa muscular. Neste sentido, e com a noção de que atletas sujeitos a treinos intensos requerem uma maior ingestão de proteínas comparativamente à população geral, para uma recuperação muscular eficaz, muitos estudos na àrea da nutrição desportiva tentam esclarecer a eficiência destas proteínas na síntese muscular. Da mesma forma, este artigo também se debruçará sobre essa questão.

Uma vez que a síntese muscular é estimulada pela alimentação, e ainda potenciada pelo treino de força, muitos estudos comprovam a existência de um aumento de massa e força muscular quando estes são adequados. A síntese muscular é altamente influenciada pelo balanço nitrogenado, (diferença entre a quantidade de proteínas ingeridas e perdidas) nomeadamente disponibilidade de AAE (particularmente leucina), mas também pela disponibilidade de hidratos de carbono (HC). É também a primeira variável a ser afetada pelo treino de força, podendo variar entre 40 a 100% acima e abaixo dos níveis normais em repouso, pelo menos 48 horas após terminar o treino.

De forma a manter um balanço nitrogenado positivo, vários estudos sugerem a ingestão de 1,4 a 1,8g/kg/dia para atletas de força, e de 1,2 a 1,4g/kg/dia para os atletas de resistência (dado que maximizar o tamanho e força muscular não é necessariamente o seu objetivo). O treino de força em condições de jejum promove o catabolismo proteico (depleção muscular) em 10 a 25%, comprometendo assim a síntese muscular. No entanto, aquando da presença de AA ou HC na circulação sanguínea, este catabolismo proteico é suprimido e, adicionalmente, a síntese muscular é estimulada.

Vários estudos sobre este tema têm considerado variáveis como o nível de treino do atleta, o teor de AA, composição de AA, teor de HC, timing de ingestão relativamente ao treino, e mais recentemente, o tipo de proteína ingerida. A proteína whey, caseína e proteína de soja, embora todas elas de AVB, apresentam diferenças, principalmente na taxa de absorção, que influenciam a sua eficácia na síntese muscular. Se a taxa de absorção de uma proteína for elevada (ou seja, rápida), resulta numa maior concentração de AA na circulação sanguínea (hiperaminoacidémia) com consequentemente aumento da síntese muscular. O mesmo sucede no inverso. A proteína whey e de soja são ambas proteínas de rápida absorção, enquanto que a caseína é uma proteína de lenta absorção. A caseína provoca uma síntese muscular mais lenta, mas por outro lado inibe o catabolismo proteico.

Além da taxa de absorção, a concentração em AAE, BCAA’s e leucina também influencia a síntese muscular. A proteína whey contém os valores mais altos de BCAA´s, em particular a leucina. A leucina é capaz de estimular a ativação de proteínas reguladoras da síntese proteica. Estes resultados parecem explicar a existência de  diferenças mesmo entre proteínas de rápida absorção.
Muitos estudos comprovam que proteína whey é mais efetiva na síntese muscular que a proteína de soja e que a caseína, tanto em repouso como após o treino de força. Um estudo recente verificou que em repouso, a síntese muscular após a ingestão de proteína whey é ~93% superior à caseína, e apenas ~18% superior à proteína de soja. Após o treino de resistência as diferenças aumentam para ~122% e ~31%, respetivamente. Assim, verifica-se uma crescente síntese muscular acordo com a ordem caseína < proteína de soja < proteína whey.

Além de proteínas, antes e/ou após o treino de força, é importante também a disponibilidade de HC. Considera-se que o melhor timing para a sua ingestão é durante os 30-45 minutos antes do treino e/ou durante as 2 primeiras horas após o treino.

Conclui-se que a dose mínima de AAE necessária para obter benefícios na síntese muscular é de 3-5g (equivalente a 8-10g de proteína whey ou caseína e a 10-12g de proteína de soja). Recomenda-se que a ingestão de AAE não ultrapasse os 10g de AAE (equivalente a ~25g de proteína whey ou caseína e a ~30g de proteína de soja), dado que quantidades superiores não mostram benefícios. Tendo em conta que 20% da proteína do leite é proteína whey e 80% é caseína, muitos atletas optam pela toma de proteína whey sob a forma de suplemento, dado que para obter 25g de proteína whey seria necessário ingerir ~4,2L de leite.

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