sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Reservas energéticas nas corridas de fundo

 Se efectuarmos uma análise critica ás velocidade médias (tabela 1), obtidas no Jogos Olímpicos de Londres, observamos que a velocidade diminui quando a distancia aumenta. Seria possível Kiprotich percorrer a maratona a uma média de 11m/s?? Obviamente que não.
Atleta
Disciplina
Veloc. Média
Usain Bolt
100 m
11,1 m/s
Kirani James
400 m
9,1 m/s
David Rudisha
800 m
7,9 m/s
Taoufick Makloufi
1500 m
7,0 m/s
Mo Farah
10000 m
6,1 m/s
Stephen Kiprotich
42195 m
5,5 m/s
Tabela 1-  Pódios Olímpicos masculinos
As diferentes disciplinas estão dependentes das vias metabólicas utilizadas, quantidade de energia disponível e da taxa de produção da mesma (tabela 2).
Velocidade Máxima de Produção
Total Disponível
Duração
ATP Disponível
ATP muscular
-
223 mmol
6seg
0,4 mol ATP
Creatina Fosfato
73,3 mmol/s
446 mmol
Conversão de glicogénio muscular a lactato
39,1 mmol/s
6700 mmol
3min
6,7 mol ATP
Conversão de glicogénio muscular a CO2
16,7 mmol/s
84000 mmol
1h23min
84 mol ATP
Conversão de glicogénio hepático a CO2
6,2 mmol/s
19000 mmol
51min
19 mol ATP
Conversão de ácidos gordos a CO2
6,7 mmol/s
4000000 mmol
165 horas
4000 mol ATP
Tabela 2- Compostos energéticos estimados para um individuo de 70kg.
O corpo humano utiliza a energia sob a forma de ATP; as suas reservas são muito limitadas (223 mmol), necessitando de uma constante produção através das diferentes vias metabólicas: glicólise, beta oxidação e fosforalização oxidativa. O nosso organismo consegue produzir ATP a partir de substractos moleculares, nomeadamente, creatina fosfato, glicogénio muscular, glicogénio hepático, ácidos gordos e proteínas.
Durante o esforço, o metabolismo requer a cooperação entre músculos, tecido adiposo e fígado. As diferentes vias produzem energia de acordo com a intensidade e duração do exercício.
Uma maratona, comparativamente aos 100m, necessita de uma maior cooperação entre as diferentes vias. As necessidades de uma maratona são cerca de 150 moles de ATP; se utilizássemos unicamente o glicogénio muscular e hepático apenas teríamos disponíveis 103 moles de ATP (tabela 2: 84 ATP+19 ATP=103 moles de ATP), o que seria insuficiente para as necessidades energéticas totais. Portanto, é necessário existir uma cooperação entre o glicogénio e os ácidos gordos para o fornecimento de energia.
As alterações metabólicas associadas ao programa de treino de resistência, incidem principalmente no tipo de substrato utilizado e não no aumento da taxa de produção de energia ou na quantidade de armazenamento de energia disponível.
O processo de adaptação origina um aumento da contribuição dos ácidos gordos, e o correspondente decréscimo do glicogénio, para produzir ATP. Como consequência, a utilização de glicogénio muscular diminui estando assim também associada a uma diminuição da concentração de lactato.
Estes dois factores acarretam uma economia das reservas limitadas de glicogénio, que é compensada pelo aumento da utilização de ácidos gordos como fonte de produção de ATP, sendo um factor importante na melhoria do desempenho nas corridas de resistência.
Se acrescentarmos os efeitos do treino com a ingestão de glícidos durante o exercício, potenciamos ainda mais o rendimento. As recomendações para provas com mais de 1 hora de duração são de 30g-60g de glícidos por hora diluídos a 6-8%. Normalmente estas bebidas são constituídas por dois tipos de glícidos a frutose e a maltodextrina. A sua ingestão deve realizar-se a cada 10-15 min em quantidades de 60-190 ml.
Geralmente nas maratonas comerciais existem 8 pontos de abastecimento que fornecem estas misturas a cada 5km, intervalando a cada 2,5 km com água.
A ingestão de glícidos durante as corridas de fundo tem um papel crucial na manutenção do rendimento desportivo e atraso da fadiga muscular.
(click sobre a imagem)
''Corre com RB''
REFERÊNCIAS:
  • Murray RK, et al. Harper’s Illustrated Biochemistry 29ªedition. Lange Basic Science. 2012
  • Berg JM, et al. Biochemistry. W.H Freeman and CO.2007
  • Hargreaves M, Thompson M. Biochemistry of Exercise. Human Kinetics. 1999
  • Hargreaves M, Exercise Metabolism. Human Kinetics.1995

Sem comentários:

Enviar um comentário